quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Quantas pessoas deixamos de conhecer por inteiro pelo medo de mergulhar?



Pearl Jam tem uma das músicas mais lindas do mundo. Talvez ela goste tanto de Sirens quanto daquele vinho barato que entope as prateleiras do supermercado, ou prefira os dois juntos – perfeita sintonia. É claro que mantem isso em segredo. Um fato trancafiado na caixa das coisas que só são reais se aliadas à solidão.
Ela também gosta de ouvir Stone Temple Pilots enquanto corre, apesar de achar as canções um tanto quanto desconexas demais. Interstate Love Song combina com seu suor. Talvez porque compartilhe o sentimento de que, naquele momento, respirar é, de fato, a coisa mais difícil a ser feita.
Outro dia, encontrou, perdido no porta-luvas do carro, um CD antigo e riscado pelo tempo. Daqueles que a gente grava em uma tarde ociosa e esquece de nomear com a caneta azul de ponta grossa. Era Radiohead. A primeira música, Karma Police, fez com que ela lembrasse do quanto gostava da banda em 2006. Talvez outras tenham ocupado o lugar de preferidas. Mas a memória daquele piano ainda estava ali.
Naquela caixa de segredos onde se encontra o gosto pela mistura entre Pearl Jam e vinho barato, ela esconde também todos os CDs do Coldplay, ainda que resista a admitir sua paixão pela banda quando é questionada sobre The Scientist.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Calma, professor



Calma, professor, hoje o som é de aplauso, não de bomba. Eu sei que você está acostumado a levar porrada dentro e fora da sala de aula, mas não precisa se assustar. Os gritos não são para te desqualificar, são para agradecer. Não precisa arregalar os olhos de espanto. Hoje é dia de festa, professor. O clima não anda bom, concordo. Mas é hoje que todos lembram da sua importância. Não quer aproveitar e sentir o gosto de ser valorizado?

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

As pessoas que matamos ao longo da vida



A secadora girava, fazendo aquele zunido que nos leva para longe. Colocou-se frente à maquina e, hipnotizada pelos movimentos circulares, mergulhou naquele buraco negro. Foi sugada pelo ralo gigante que escoa as águas do pensamento.
Em seu universo, a morte tinha outro significado. As crianças são as únicas  que falam desse assunto com naturalidade. Não são como os adultos, que não sabem o que fazer com a palavra e procuram sempre não dizê-la. O morrer, muitas vezes, não está ligado ao fim da vida. Tudo depende do referencial.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Simone



O centro de Catanduva parece nunca ter mudado. Desde quando posso me lembrar, o trânsito é lento entre a rua Minas Gerais e a Brasil. As pessoas tumultuam o calçadão nos sábados de manhã e na época do Natal. 
O passo dos catanduvenses sempre foi apressado, desde quando consigo me lembrar. Seguimos um fluxo. Seguimos olhando fixamente para o objetivo final. Traçamos a rota antes mesmo de sair de casa.

O centro de Catanduva parece nunca ter mudado, mas muda todos os dias.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O acordar do domingo



No domingo, o acordar é maravilhoso. Natural. Os olhos abrem quando sentem vontade. Os ouvidos folgam do despertador. O sol esconde-se por entre as nuvens, respeitando o descanso merecido. No acordar de domingo, sentimos o gosto da liberdade. As pernas esticam e encolhem quantas vezes forem necessárias para causar o tédio e nos fazer levantar. Enroscam-se nas pernas do outro, convencendo-o a ficar por mais dez minutos. Ou algumas horas.

O acordar de domingo é nossa chance de escolha tão desejada. A eficiência da cafeína torna-se questionável. Os limites da manhã são esticados até um almoço tardio, sem correr o risco de estourar ao esbarrar em prazos que atropelam o passar do dia.