Eu
carrego o mundo nas costas. Minha coluna já não aguenta tanta pressão. Ontem
mesmo, quase surtei e, naquele momento, senti-me culpada por isso. Engoli o
choro e repeti o mantra. Logo vai passar.
O
começo de um relacionamento é quarto escuro. Esbarramos em uma porta e a
fechadura reluzente nos chama atenção. Entramos. Com medo de fazer qualquer
movimento brusco, esperamos de mãos estendidas. Mas a curiosidade amolece os
músculos rígidos de tensão. Começamos, então, a tatear o ambiente em busca de
respostas.
Nesse
processo de enxergar com as mãos, tropeçamos na bagunça do outro. Nosso dedinho
encontra uma quina qualquer. Hematomas misteriosos surgem de gavetas abertas
pelo caminho. E, apesar das dores alucinantes, a imagem formada em nossa mente
é sempre algo belo.
Sem
vislumbrar o clarão que ilumina a verdadeira face do outro, criamos a paisagem
que nosso coração deseja habitar.
Decidimos, de súbito, alugar aquele quarto por tempo indeterminado.