quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Emplasto anti-hipocondríaco



Brás Cubas era um menino levado. Endiabrado, como costumavam lhe chamar pelas costas. Fruto da sociedade burguesa, realizava todos os seus desejos, quer fossem plausíveis, quer não. Contou, em suas memórias póstumas, que, quando descontente, vingava-se, como fez com o pobre doutor Vilaça, na noite do jantar especial em comemoração à derrota de Napoleão. 
Brás Cubas teve uma vida de não realizações. Nada produziu, apenas consumiu. Pouco antes de falecer, agarra-se a uma ideia fixa: a criação de um emplasto anti-hipocondríaco, que, dizia, era alívio para a melancolia da humanidade. Já do outro lado do mundo, confessa a farsa - o real motivo da criação do medicamento era ver seu nome escrito nas caixinhas de remédio. Desejava, de alguma forma, ser eternizado, ainda que não houvesse feitos heroicos em sua biografia.
Machado o criou exatamente para demonstrar o vazio existencial da burguesia de sua época, marcada pela aparência e abandonada pela essência. Memórias Póstumas de Brás Cubas é o drama da irremediável tolice humana.