domingo, 16 de outubro de 2016

Conviver com crianças

Todos deveriam reservar alguns momentos para conviver com crianças. Guardar um tempo para uma boa conversa. Daquelas que exigem olhos nos olhos. Jogar-se ao chão para engrandecer-lhes. Crianças me ensinam muito! Ouso dizer: muito mais que doutores com os quais trombei pela trajetória da vida. 

Nem só borboletas moram no estômago

Tem soco que dói de dentro para fora, rasgando as vísceras em um movimento de vai-e-vem. 
O estômago fica feito copo d'água que efervesce uma daquelas pastilhas repletas de bolhas. Queima. Queima os olhos, esôfago e pulmões. 
A espuma, ora branca, ora nada, espanta as borboletas, sufocando-as. A falta de oxigênio amputa suas asas, que caem secas naquela bolsa digestiva. 
Os relógios giram ao contrário diante da asfixia, transformando-as em larvas rastejantes. Espalhando ovos prontos para eclodir em qualquer espaço dentro de nós. 
Um soco repentino. Infestação. Inquietação. Larvas forçando a saída por todos os poros; empilham-se em um quadro exposto no extremo oposto da beleza.

Da mágoa, acumulam reservas. Alimentam-se de lágrimas e revestem-se de frustração, formando casulos. Enclausuradas em fios de dor, tornam-se pupas. Aquietam-se. Digerem todos os coágulos que rodeiam o machucado da agressão. 
Têm poder cicatrizante, esses casulos. Diante deles, a efervescência, pouco a pouco, acaba. Cada vez menos gotícula espirram nos olhos, fazendo-os lacrimejar. 

Tão repentinas quanto o soco, emergem as borboletas de asas vistosas. Novas borboletas de asas vistosas tão vulneráveis à asfixia, como as anteriores. 
A vida é amontoado de ciclos.