quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O término da faculdade

O término da faculdade é fase curiosa e dolorida. A ruptura é inevitável. O Jornalismo foi minha segunda graduação e, já no primeiro dia de aula, tive pressa de sair. Mal aproveitei toda aquela tinta. O foco estava no fim. Eu desejei, a todo custo, o último ano.
Nos dois primeiros, meu coração estava ainda em Ribeirão Preto. Era como se eu fosse carta fora do baralho. Uma visita dentro de minha própria casa, daquelas que pedem licença para abrir a geladeira. Depois, pouco a pouco, deixei que a dona do mercadinho soubesse meu nome, fiz amizade com o vizinho da frente, ofereci-me para regar as plantas em sua ausência e não mais deixei os sapatos do lado de fora, com medo de sujar aqueles cômodos que, de repente, eram tão meus.
Eu sonhei com o término da faculdade. O dia em que eu estaria livre da universidade e de Bauru. Quando, finalmente, poderia partir para onde quisesse. Ontem, era tudo tão certo. A mesma rotina. Você já conseguiu uma fonte para a reportagem de Radiojornalismo II? Sociologia na segunda-feira à noite. Qual vai ser o martírio da manhã de sábado desse semestre? Hoje, silêncio.
O fim chegou sem avisar. Mais rápido do que pude prever.
Eu vivi bons anos de graduação, mas, se pudesse dar um conselho aos que ainda viverão, diria: não desejem o fim. As aulas, com o passar do tempo, tornam-se cansativas. Provas e trabalhos transformam-se em insônia. Fulana não fez sua parte e aquele professor não consegue explicar o conteúdo. Eu sei. É trajetória feita de pedrinhas pontiagudas, que fazem sangrar as solas dos pés.
Dói.
Mas vou contar um segredo.
Nas últimas semanas, notei que a graduação extrapola os limites acadêmicos. Nesses quatro anos, a eterna contagem regressiva para a formatura, construi uma vida. Tijolo sobre tijolo. Fiz amigos que só enxerguei a importância quando me dei conta de que não mais fariam parte de minha rotina.
Daqui, da linha de chegada, tive uma visão surpreendente. Quanta história foi escrita - lágrimas, sorrisos, bebedeiras, ansiedade, dúvidas e a incerteza de que este era mesmo o caminho que deveria seguir.
O término da faculdade nos faz conhecer as belezas que ignoramos pela pressa de chegar.
É difícil encontrar os amigos, não existe mais o intervalo na cantina para falar sobre tudo. Ou sobre nada. A turma esfarela feito biscoito de polvilho, aquele que comiam juntos entre uma aula e outra. Alguns ficam perto, outros, tão longe. Meus dias tornam-se só meus. Os relógios não batem. Os destinos não são mais os mesmos.
Quer almoçar comigo hoje?
Não dá.
Amanhã, quem sabe?
E na quinta?
O fim é aliado da solidão.
Toda noite, antes de dormir, durante esses quatro anos, pensei em como é que seria quando, finalmente, terminasse a faculdade. Não me contaram que, apesar dos problemas, essa é a última fase em que não estaríamos sós, na presença de nós mesmos, lutando uma luta que não pertence a mais ninguém.
Vamos tomar uma cerveja?
Vou trabalhar no final de semana.
Na sexta, tenho plantão.
Mês que vem está tranquilo?
E os meses vão passando, trabalho acumulando, pós-graduação, transferências de cargo. Não vejo aquela amiga de turma há anos. Nem me lembro deste ou daquele professor.
Ouça o conselho: não tenha pressa de chegar. O fim é irremediável e traz, junto dele, o silêncio. O término da faculdade é isso - silêncio. Linhas mudas. E o caos de um mundo de laços frouxos e distâncias.
A vida adulta é feita de hiatos.

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